segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Capítulo 3 - A Rua


Voltei para casa a pé. Desisti do táxi, precisava de ar. Meu coração estava pesado. Uma sensação que não sentia há tempos. Quando era menina, 16, 17 anos, vivia com o coração amarrado. Parecia que ia explodir. Palpitações no meio da noite, parecia que eu tinha um coração pequeno, como se ele tivesse sido colocado numa caixa apertada. Depois passou. Ou vai ver eu acostumei.
Falar da criança que eu fui me fez ver como sou péssima. É como se fosse o meu destino. Ao invés de investir em cursos, num esporte, sei lá, eu brincava, sonhava, queria ser estrela. Talvez, se tivesse sido menos teimosa, hoje estaria mais rica e menos doente. Essa dor no peito só pode ser doença.Vai ver nasci cardiopata e não sei. Vou deixar o cardiologista pra mais tarde. Pagar a terapia já me esvazia demais os bolsos. Mais adiante, quero deixar de ser péssima de corpo, porque de alma eu já estou dando um jeito. Não quero mais ser péssima. Não sei bem o motivo, mas não quero. Mesmo que todo mundo me diga que eu preciso sossegar. Sossegar, neste caso, é esperar a morte. Afinal, ela está cada vez mais perto, não há como negar. Só que eu quero morrer bem.

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